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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

100 anos da Estação Ferroviária de Crateús - e o respeito, que é bom, nada!


Lourival Veras

Como a maioria das pessoas comuns, essa gente cujo desejo mais forte é viver uma vidinha pacata, sem grandes atropelos, confesso: eu sou um iludido! Sou, não nego. E não me exemplo com as desilusões sofridas, não tem quem faça! Às vezes, estufo o peito, sacudo a cabeça e prometo a mim mesmo: pronto, chega, agora não acredito mais. Aí, basta aparecer uma coisa da qual a gente gosta e torce, para abrir no peito novas expectativas de fé inabalável e ficar feito menino esperando bicicleta no Natal. Pra quê? Ora, pra se desiludir de novo, é claro! Parece até que a vida do homem comum é levar porrada nos cornos "toda vez que o sonho lhe diz sim". 

Besta, acreditei piamente que Crateús iria valorizar sua história no centenário da Estação Ferroviária, preparando-lhe uma baita festa, com programação de encher os olhos e as mentes sequiosas do sentido de pertença de todos nós. Afinal, esta cidade, pelo amor de deus!, deve seu progresso inicial à ligação que o trem lhe emprestou com o restante da civilização. Nada mais justo, portanto, que homenagear essa ilustre centenária, cuidá-la, enfeitá-la, mimá-la até, e ofertá-la de presente ao povo em toda sua plenitude. Certo? Parece que não. 

Em reportagem escrita pela querida jornalista Silvania Claudino para o DN, somos apresentados à programação alusiva ao aniversário da velha senhora, ou seja, a exemplo do que já aconteceu no ano passado, ela será mais uma vez transformada em "Casa do Papai Noel", para que as crianças possam visitar a casa do bom velhinho – conforme resalta o responsável pelo "projeto". Ora, por favor! Acho eu, na minha insignificância de quem nada entende de cultura e história, que o prédio e sua memória merecem muito mais que isso. Isso que estão divulgando, no meu simplório entendimento, é não menos do que um desrespeito a cada uma das pessoas que ajudou a construir a história desta cidade e que a deseja intacta para as gerações que hão de nos seguir. 

Edilson Macedo, articulador cultural e conselheiro patrimonial do município, proclama em artigo sobre a degradação sofrida pela amada Estação que: "Estes antigos trilhos de ferro, onde tantas memórias estão incrustadas, partiram de Camocim, chegaram aqui em 1912, a exatos cem anos, quando, de Vila Imperial, passamos à então Cratheús, tal qual está escrito em alto relevo no pardieiro principal, ali onde comprávamos os bilhetes, de primeira ou segunda classe... passaporte para mundos distantes, insondáveis, que víamos pelas janelas..." Então, eu me pergunto bestamente: é impossível ter esse sentimento de amor pelo que nos é caro, por aquilo que ajudou a nos dar uma identidade e que alimentou a tantos de nós? Seremos nós tão desmemoriados que sequer nos abalemos com tamanho descaso? 

O que custa organizar uma exposição fotográfica no próprio prédio, com fotos da época, mostrando as idas e vindas da população de então em suas viagens pelo mundo? Sei que as famílias que guardam essas relíquias ficariam muito felizes em contribuir, cedendo uma cópia de suas imagens para ajudar a contar a história desses cem anos. 

Por que não se elaborar seminários e debates envolvendo historiadores/memorialistas do município com as gerações mais jovens, alunos das redes pública e particular de ensino? Seria um prazer e uma honra para pessoas como o Sr. Flávio Machado e Pe. Geraldinho, para me restringir apenas a dois nomes dos mais capacitados para tanto. 

Por que não entregar o prédio de vez à população, elegendo-o como casa de arte, formadora de cidadãos mais engajados com a cultura da cidade? Sei de quatro ou cinco instituições que adorariam transformar aquele espaço num chão de cidadania! 

O senhor prefeito municipal, Dr. Carlos Felipe, em recente matéria veiculada pelo Blog do Eliomar, "promete, em sua nova gestão, reforçar principalmente o diálogo com a população". Bom, não é o que parece até o momento. Eu pelo menos não soube de ninguém que fosse sequer chamado para uma conversa sobre o aniversário da Estação Ferroviária. Se alguém foi, eu me desculpo então. Mas sabemos todos nós que um dos principais defeitos dessa administração é não dialogar com a população, a verdadeira interessada nos projetos do executivo. Não é por que o prefeito ou seus auxiliares acham que uma determinada ação é benéfica para a cidade, que eles simplesmente podem meter os paus fazendo, sem dizer nem A nem B à comunidade. Isso não funciona. Como exemplo, podemos citar o desastre que foi a comemoração do centenário da cidade, quando tentaram enganar a todos os envolvidos com uma suposta consulta. Mentira! Outro exemplo? Ainda hoje se encontra parada a "revitalização" do rio Poti, com a construção de um calçadão em suas margens. Por quê? Porque não houve diálogo. Então, a menos que o prefeito esteja esperando iniciar sua próxima gestão para começar finalmente a conversar com a população, uma vez que foi reeleito, eu não vejo muito futuro nessa história não. Posso estar errado, é claro, mas hoje eu me encontro na fase do "desiludido". Pode ser que amanhã eu mude de novo e de novo passe a crer piamente que desse buraco vai sair coelho. Afinal, sou apenas um sujeito comum e o que eu quero mesmo é acreditar. 

Fonte: Notas Aleatórias No 2
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