Elias de França
Passadas
aquelas fases em que se tem medo de escuro, de bicho-papão e de matemática, é
que se percebe o quanto os números são interessantes. Armas poderosas quando
nas mãos certas, desmascaram as mais bem arquitetadas falsas teses. Contra
números não há argumentos, eis a certeza. Até que uma frase atribuída a um
velho e experiente político brasileiro, José Sarney, nos abre uma premissa para
correr o risco de mexer com esses sinaizinhos gráficos tão perigosos. A frase
é: “os números nunca mentem, mas, quando torturados, confessam o que se deseja”.
Diante
das contas eleitorais dos candidatos a prefeito de Crateús, tais como
apresentadas à justiça e disponibilizadas no site do TSE, vi contraditas todas
as percepções acerca dessas eleições. O que se imaginava ter presenciado nas
ruas e distritos, a despeito das restrições de algumas práticas pactuadas com a
justiça eleitoral, era grande aparato, especialmente por partes dos dois
candidatos que polarizaram a disputa. Eram comícios abundantes, dois, três por
semana; nos arredores e estradas, centenas de pick-ups lotadas de passageiros advindos dos mais diversos lugares;
palanques e equipamentos de som de farta estrutura; notícias e boatos de
denúncias de campanha irregular e compra de votos; cavaletes em todas as ruas,
alguns em tamanho real; chuva de santinhos e folhetins fazendo rastros de
entulho no asfalto após carreatas; aviões trazendo caciques nacionais para
participarem dos eventos da campanha...
Conhecidos
os números, pasmem: juntos os cinco candidatos declaram ter gasto, durante os
três meses de campanha, a surpreendente quantia de R$ 234.649,08. Valor
inferior a dois meses de honorários dos 15 vereadores eleitos para a próxima
legislatura, pelo exercício da pesada jornada de cerca de oito horas mensais do
legislativo municipal.
O custo
per capta dos votos dos candidatos é
intrigante. Os mais caros são exatamente os que menos se esperava. Os 113 sufrágios
de Eduardo Machado custaram ao candidato exorbitantes R$ 44,69 cada, seguidos
pelos de Adriana Calaça, R$ 10,99, os de Massaroca R$ 8,58, e de Ivan R$ 8,18.
O prefeito reeleito Carlos Felipe foi o campeão de economia, com o voto
literalmente “mais barato do que bolo”: R$ 3,37 cada.
A lista
de doadores também não deixa qualquer dúvida de quão injustas eram as
suposições maldosas. Nos R$ 143.481,15 gastos pelo candidato Ivan, nenhum
centavo dos “coronéis de Tauá”. Apenas duas empresas aparecem na lista de
doadores, sendo as demais pessoas físicas. E a lista dos mecenas de Carlos
Felipe, que perfizeram R$ 65.565,45, é de causar ciúmes até mesmo ao rigoroso
PSOL. Todas pessoas físicas, nenhum cacique politico de outras regiões e nenhum
centavo das empresas ou grupos econômicos locais que se supunham beneficiárias
das prestações de serviços ao poder público municipal.
Quando
aprovadas as contas pela justiça eleitoral, restar-nos-á o reconhecimento de
Crateús como um exemplo de campanha barata e saudável, sem financiamentos
escusos, sem a influência de forasteiros ou qualquer mancha. Aos que supúnhamos
coisa diferente, cabe expiar as culpas pelos maus pensamentos.
Quiçá,
o exemplo de Crateús possa chegar ao congresso nacional como uma referencia
para a elaboração do projeto de financiamento público de campanha. E quem sabe,
pelo “bem lidar com economia”, na Terra das coisas “nunca antes vistas na
história”, gestores de Crateús possam interessar até a bancos internacionais,
como dirigentes ou executivos, a exemplo de Henrique Meirelles, Lech Wałęsa, ou, porque não, irem
para o BID, ao lado de Cid Gomes, após o término de seus mandatos.