Gallery

sábado, 10 de novembro de 2012

A MAGIA DAS CONTAS ELEITORAIS


Elias de França

Passadas aquelas fases em que se tem medo de escuro, de bicho-papão e de matemática, é que se percebe o quanto os números são interessantes. Armas poderosas quando nas mãos certas, desmascaram as mais bem arquitetadas falsas teses. Contra números não há argumentos, eis a certeza. Até que uma frase atribuída a um velho e experiente político brasileiro, José Sarney, nos abre uma premissa para correr o risco de mexer com esses sinaizinhos gráficos tão perigosos. A frase é: “os números nunca mentem, mas, quando torturados, confessam o que se deseja”

Diante das contas eleitorais dos candidatos a prefeito de Crateús, tais como apresentadas à justiça e disponibilizadas no site do TSE, vi contraditas todas as percepções acerca dessas eleições. O que se imaginava ter presenciado nas ruas e distritos, a despeito das restrições de algumas práticas pactuadas com a justiça eleitoral, era grande aparato, especialmente por partes dos dois candidatos que polarizaram a disputa. Eram comícios abundantes, dois, três por semana; nos arredores e estradas, centenas de pick-ups lotadas de passageiros advindos dos mais diversos lugares; palanques e equipamentos de som de farta estrutura; notícias e boatos de denúncias de campanha irregular e compra de votos; cavaletes em todas as ruas, alguns em tamanho real; chuva de santinhos e folhetins fazendo rastros de entulho no asfalto após carreatas; aviões trazendo caciques nacionais para participarem dos eventos da campanha...

Conhecidos os números, pasmem: juntos os cinco candidatos declaram ter gasto, durante os três meses de campanha, a surpreendente quantia de R$ 234.649,08. Valor inferior a dois meses de honorários dos 15 vereadores eleitos para a próxima legislatura, pelo exercício da pesada jornada de cerca de oito horas mensais do legislativo municipal.

O custo per capta dos votos dos candidatos é intrigante. Os mais caros são exatamente os que menos se esperava. Os 113 sufrágios de Eduardo Machado custaram ao candidato exorbitantes R$ 44,69 cada, seguidos pelos de Adriana Calaça, R$ 10,99, os de Massaroca R$ 8,58, e de Ivan R$ 8,18. O prefeito reeleito Carlos Felipe foi o campeão de economia, com o voto literalmente “mais barato do que bolo”: R$ 3,37 cada.

A lista de doadores também não deixa qualquer dúvida de quão injustas eram as suposições maldosas. Nos R$ 143.481,15 gastos pelo candidato Ivan, nenhum centavo dos “coronéis de Tauá”. Apenas duas empresas aparecem na lista de doadores, sendo as demais pessoas físicas. E a lista dos mecenas de Carlos Felipe, que perfizeram R$ 65.565,45, é de causar ciúmes até mesmo ao rigoroso PSOL. Todas pessoas físicas, nenhum cacique politico de outras regiões e nenhum centavo das empresas ou grupos econômicos locais que se supunham beneficiárias das prestações de serviços ao poder público municipal. 

Quando aprovadas as contas pela justiça eleitoral, restar-nos-á o reconhecimento de Crateús como um exemplo de campanha barata e saudável, sem financiamentos escusos, sem a influência de forasteiros ou qualquer mancha. Aos que supúnhamos coisa diferente, cabe expiar as culpas pelos maus pensamentos. 

Quiçá, o exemplo de Crateús possa chegar ao congresso nacional como uma referencia para a elaboração do projeto de financiamento público de campanha. E quem sabe, pelo “bem lidar com economia”, na Terra das coisas “nunca antes vistas na história”, gestores de Crateús possam interessar até a bancos internacionais, como dirigentes ou executivos, a exemplo de Henrique Meirelles, Lech Wałęsa, ou, porque não, irem para o BID, ao lado de Cid Gomes, após o término de seus mandatos.
 
 
 

 
 
 

Comentários
0 Comentários

Nenhum comentário :

Postar um comentário