O Diabetes Mellitus
configura-se hoje como uma epidemia mundial, traduzindo-se em grande desafio
para os sistemas de saúde de todo o mundo. O envelhecimento da população, a
urbanização crescente e a adoção de estilos de vida pouco saudáveis como
sedentarismo, dieta inadequada e obesidade são os grandes responsáveis pelo aumento
da incidência e prevalência do diabetes em todo o mundo.
No
Brasil, segundo dados da Sociedade Brasileira de Diabetes, existem cerca de 12.054.827 de portadores da doença que, junto com a hipertensão arterial, é responsável pela
primeira causa de mortalidade e de hospitalizações, de amputações de membros
inferiores e representa ainda 62,1% dos diagnósticos primários em pacientes com
Insuficiência renal crônica submetidos à diálise. É importante observar que já
existem informações e evidências científicas suficientes para prevenir e/ou
retardar o aparecimento do diabetes e de suas complicações e que pessoas e
comunidades progressivamente têm acesso a esses cuidados.
Os
tipos de diabetes mais frequentes são o diabetes tipo 1, anteriormente conhecido
como diabetes juvenil, que compreende cerca de 10% do total de casos, e o diabetes
tipo 2, anteriormente conhecido como diabetes do adulto, que compreende cerca
de 90% do total de casos. Outro tipo de diabetes encontrado com maior frequência
e cuja causa ainda não está esclarecida é o diabetes gestacional, que, em
geral, é um estágio pré-clínico de diabetes, detectado no rastreamento
pré-natal. Outros tipos específicos de diabetes menos frequentes podem resultar
de defeitos genéticos da função das produtoras de insulina, hormônio que regula os níveis de glicose (açúcar) no sangue, defeitos genéticos da ação da
insulina, doenças do pâncreas exócrino, endocrinopatias, efeito colateral de
medicamentos, infecções e outras síndromes genéticas associadas ao diabetes.
Rastreamento
do diabetes
Cerca
de 50% da população com diabetes não sabe que são portadores da doença,
algumas vezes permanecendo não diagnosticados até que se manifestem sinais de
complicações. Por isso, testes de rastreamento são indicados em indivíduos assintomáticos
que presentem maior risco da doença, apesar de não haver ensaios clínicos que
documentem o benefício resultante e a relação custo-efetividade ser questionável.
Fatores indicativos de maior risco são listados a seguir:
• Idade
> 45 anos.
•
Sobrepeso (Índice de Massa Corporal-IMC >25).
•
Obesidade central (cintura abdominal >102 cm para homens e >88 cm para mulheres,
medida na altura das cristas ilíacas).
•
Antecedente familiar (mãe ou pai) de diabetes.
•
Hipertensão arterial (> 140/90 mmHg).
•
Colesterol HDL < 35 mg/dL e/ou triglicerídeos > 150 mg/dL.
•
História de macrossomia ou diabetes gestacional.
•
Diagnóstico prévio de síndrome de ovários policísticos.
•
Doença cardiovascular, cerebrovascular ou vascular periférica definida.
Indivíduos
de alto risco requerem investigação diagnóstica laboratorial com glicemia de
jejum e/ou teste de tolerância à glicose.
Alguns casos serão confirmados como portadores de diabetes, outros apresentarão
alteração na regulação glicêmica (tolerância à glicose diminuída ou glicemia de
jejum alterada), o que
confere maior risco de desenvolver diabetes.
Diagnóstico
Os
sintomas clássicos de diabetes são: poliúria, polidipsia, polifagia e perda involuntária
de peso (os “4 Ps”). Outros sintomas que levantam a suspeita clínica são: fadiga,
fraqueza, letargia, prurido cutâneo e vulvar, balanopostite e infecções de
repetição. Algumas vezes o diagnóstico é feito a partir de complicações
crônicas como neuropatia, retinopatia ou doença cardiovascular aterosclerótica.
Entretanto, como já mencionado, o diabetes é assintomático em proporção
significativa dos casos, a suspeita clínica ocorrendo então a partir de fatores
de risco para o diabetes.
Quadro 1. Interpretação dos resultados da glicemia de jejum e do teste de tolerância à glicose
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Glicemia
em jejum (mg/dl)
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Glicemia
2h após TTG-75g (mg/dl)
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Normal
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<110
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<140
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Glicemia
de jejum alterada
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110-125
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Tolerância
à glicose diminuída
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140-199
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Diabetes
mellitus
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>126
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> 200
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Quando os níveis glicêmicos de um indivíduo estão
acima dos parâmetros considerados “normais”, mas não estão suficientemente elevados
para caracterizar um diagnóstico de diabetes, os indivíduos são classificados
como portadores de “hiperglicemia intermediária”: glicemia de jejum alterada e tolerância à glicose diminuída.
Tratamento
Diabetes Tipo 1
Pela maior complexidade do cuidado,
esses pacientes são em geral acompanhados por especialista endocrinologista. O
encaminhamento deve ser imediato, com o cuidado de evitar
demora no atendimento, pois, eles apresentam risco elevado de descompensação
metabólica.
Hiperglicemia Intermediária
Pacientes
classificados como portadores de hiperglicemia Intermediária devem ser
informados sobre seu maior risco para o desenvolvimento de diabetes e doença aterosclerótica
e orientados sobre hábitos saudáveis para sua prevenção. Programas de intensificação
de mudanças de estilo de vida devem ser oportunizados, especialmente, àqueles
mais motivados ou sob maior risco. Pacientes com glicemia de jejum alterada, por apresentaram maior risco de
desenvolver diabetes, devem receber também orientação preventiva.
Diabetes Tipo 2
Os dois planos
básicos do tratamento clínico do paciente com diabetes tipo 2 incluem o controle glicêmico
com a prevenção das complicações agudas e a prevenção das complicações crônicas. O controle glicêmico pode ser obtido mediante a mudança de estilo de vida com alimentação saudável e atividade física regular. O tratamento farmacológico será adotado naqueles pacientes que não conseguiram obter o controle glicêmico apenas com as mudanças de estilo de vida.
Prevenção
Está
bem demonstrado hoje que indivíduos em alto risco (com tolerância à glicose
diminuída), podem prevenir, ou ao menos retardar, o aparecimento do diabetes
tipo 2. Ainda não há prevenção para o diabetes tipo 1.
Por
exemplo, mudanças de estilo de vida reduziram 58% da incidência de diabetes em
3 anos. Essas mudanças visavam discreta redução de peso (5-10% do peso), manutenção
do peso perdido, aumento da ingestão de fibras, restrição energética moderada,
restrição de gorduras, especialmente as saturadas, e aumento de atividade
física regular. Intervenções farmacológicas, p.ex., alguns medicamentos
utilizados no tratamento do diabetes, como a metformina, também foram eficazes,
reduzindo em 31% a incidência de diabetes em 3 anos. Esse efeito foi mais
acentuado em pacientes com IMC > 35 kg/m2.
Casos
com alto risco de desenvolver diabetes, incluindo mulheres que tiveram diabetes
gestacional, devem fazer investigação laboratorial periódica para avaliar sua
regulação glicêmica. A caracterização do risco é feita de modo semelhante
àquela feita para suspeita de diabetes assintomático discutida acima.
