Por Elias de França
Estamos há um mês do término das eleições em Crateús. O atual prefeito foi reeleito, mas,
ao contrário do pleito anterior, quando obteve grande maioria em relação ao somatório
de votos dos demais, agora foi derrotado pela oposição. Eleito, sim, mas por
minoria.
O segundo
colocado no pleito, apesar da expressiva votação obtida, já é esquecido. Há
muitos anos fora da cidade, não lhe restaram referenciais, ou talvez nunca os
teve. Não obrou aqui ações extraordinárias que lhe possam render popularidade.
Os que sufragaram seu nome o fizeram por recomendação de seus apoiadores, pelo
envolvimento da própria disputa ou por rejeição à atual administração. Partiu
do nada, resultou em nada.
Adriana
Calaça, do PSOL, ficou em terceiro lugar, contrariando a vontade dos que
defendem as velhas táticas políticas do atraso e as pesquisas encomendadas, que
sempre lhe punham atrás do Massaroca. Nunca havia disputado eleições. Sequer
era filiada a qualquer partido até um ano antes do pleito. Tinha o menor tempo no rádio: 2,05
minutos. Somente seis candidatos a vereador, nenhum eleito. Obteve 1.191
sufrágios, 3,04% dos votos válidos.
Enquanto
todas as manifestações da candidata e do seu partido expressam grande
satisfação com os resultados alcançados, inexplicavelmente seus adversários,
mesmo os proclamados vitoriosos, não se conformam. Sabujos das velhas
oligarquias se agarram a leviandades e distorções de fatos para atacar a
candidata e o seu partido. Vereadores choramingam a postura crítica do PSOL aos
tropeços da atual legislatura. E até o prefeito reeleito se serve dos
microfones das duas emissoras de rádio que lhes são servis para tentar
minimizar a importância de Adriana Calaça neste pleito.
Como
entender tanto mal estar dos adversários com um partido tão pequenino? Por que
o PSOL incomoda tanto? Elencamos aqui algumas constatações que ajudam a
compreender toda essa ira contra a candidata que ficou apenas em terceiro
lugar.
Os 1.191
votos de Adriana Calaça, conquistados de forma limpa, sem admitir a compra de
votos ou favorecimentos escusos, sem o dinheiro de caciques, defendendo ideias,
tem vários significados históricos. O crescimento do partido, em relação à
votação obtida na eleição anterior, pelo Dr. Alexandre Maia (691 votos), foi de
72,36%. Em Crateús, depois do fim do voto de legenda para candidatos
majoritários, em seis pleitos tivemos mais de dois candidatos concorrendo. Fora
os dois que polarizaram o pleito, apenas duas alcançaram a cifra de mais de
1000 votos, coincidentemente duas mulheres, as duas sindicalistas: Adriana
Calaça (1.191, entre cinco candidatos, em 2012) e Socorro Sales (1.498 votos,
entre três candidatos, em 1996). Massaroca (862 votos), Alexandre Maia (691
votos), Zé Vagno (662 votos), Lucinha (430 votos), Edmilson Coelho, Eduardo
Machado e Manoel Balbino completam a lista dos corajosos que ousaram desafiar a
velha dicotomia polar. E em esfera maior de comparação, os votos de Adriana
Calaça (3,04% dos votos válidos) superaram, em valores relativos, a votação de muitos
campeões de votos, inclusive o líder maior do PC do B, o senador Inácio Arruda, que já
foi em vários pleitos o deputado mais votado do Ceará, por três vezes candidato
a prefeito de Fortaleza com ampla votação e agora em 2012 alcança – essa sim:
pífia e decepcionante – votação de míseros 1,82%.
Mas o fato
que mais incomoda é que Adriana, apesar de estreante na política, tem a mais
bela história de compromisso com a cidade, dentre todos os que teve como
concorrentes. Foi presença marcante nas principais lutas sociais das duas
últimas décadas: dos estudantes, dos artistas, dos sem terra, sem teto, dos
servidores, das mulheres. Em 1995 se irmanava aos universitários que lutavam
por um rancho para a FAEC, conquistando o CAIC. Em 2000, juntamente com as
colegas professoras da CNEC, revelou o distrito de Realejo como um seleiro de
talento teatral, galgando vários prêmios nos FESTECs. Em 2001, milhares de
mulheres foram às ruas em passeata de solidariedade a Ela, que havia sido
vítima de constrangimentos e perturbações, em sua condição de mulher, em um
restaurante da cidade. Adriana concebeu e coordena um dos maiores projetos culturais
da história de Crateús, reconhecido em todo o Estado, o adorável “Quintal com
Arte”.
Como
sindicalista, juntamente com seus colegas do Sindicato dos Professores, impôs
todas as derrotas ao atual gestor, nos embates da categoria com a
Administração, nos quatro anos de gestão. O prefeito eleito com votação
histórica e que se apresentava como esperança de novos tempos viu sua máscara
de bondade cair logo em 2009, ao tentar fechar o Sindicato, ao cortar dois
meses de salários dos professores, deixando centenas de famílias com fome. O
arrogante, vaidoso e prepotente mandatário teve que amargar grande mobilização
liderada pelo sindicato, em solidariedade aos grevistas. Varias famílias
“adotaram” como alimentando os filhos dos professores. Os eventos beneficentes
reuniam multidões. O comércio, que sofria o impacto da falta de pagamento dos
servidores, em atitude nunca antes vista, fechou suas portas durante uma tarde
em solidariedade e apoio ao movimento, fato que irritou até as lideranças
nacionais do PC de B. A competente e bem sucedida campanha de arrecadação de
donativos foi bastante para suprir as carências de comida, remédios, contas de
água e luz dos professores, e a greve somente terminou após 78 dias, com o
acordo contemplando o pleito da categoria. E em 2011 nova vitória do Sindicato,
quando em juízo o prefeito ameaçava entregar o cargo por ter que conceder
reajuste de 16,6% para os professores, conforme acordo firmado.
Quanto ao atual prefeito, nada de
relevante em se tratando de vínculos com Crateús. Era um mero desconhecido
quando aqui chegou em 2004, para disputar a sucessão de Paulo Nazareno, como neoliberal filiado ao PSDB. Em 2006 fez a campanha de Geraldo Alckmin à presidência e dos candidatos do PSDB, inclusive
Neném Coelho. De repente, vira bolchevique, filia-se ao PC do B e se torna maior inimigo daqueles que lhes eram
correligionários dois anos antes. Eleito em 2008, Fez uma das gestões mais
medíocres e conturbadas da história de Crateús. Quem teve a oportunidade de
vivenciar os seus quatro anos de incompetência e trombadas – enquanto se cobria
de vaidade e soberba, literalmente “se achando o tal”, até descobrir, uma
semana antes da eleição que não era tão amado assim – não há de esperar coisa
melhor nos próximos quatro anos.