Gallery

domingo, 4 de novembro de 2012

PODER DE INCOMODAR



Por Elias de França

Estamos há um mês do término das eleições em Crateús. O atual prefeito foi reeleito, mas, ao contrário do pleito anterior, quando obteve grande maioria em relação ao somatório de votos dos demais, agora foi derrotado pela oposição. Eleito, sim, mas por minoria.

O segundo colocado no pleito, apesar da expressiva votação obtida, já é esquecido. Há muitos anos fora da cidade, não lhe restaram referenciais, ou talvez nunca os teve. Não obrou aqui ações extraordinárias que lhe possam render popularidade. Os que sufragaram seu nome o fizeram por recomendação de seus apoiadores, pelo envolvimento da própria disputa ou por rejeição à atual administração. Partiu do nada, resultou em nada.

Adriana Calaça, do PSOL, ficou em terceiro lugar, contrariando a vontade dos que defendem as velhas táticas políticas do atraso e as pesquisas encomendadas, que sempre lhe punham atrás do Massaroca. Nunca havia disputado eleições. Sequer era filiada a qualquer partido até um ano antes do pleito. Tinha o menor tempo no rádio: 2,05 minutos. Somente seis candidatos a vereador, nenhum eleito. Obteve 1.191 sufrágios, 3,04% dos votos válidos.

Enquanto todas as manifestações da candidata e do seu partido expressam grande satisfação com os resultados alcançados, inexplicavelmente seus adversários, mesmo os proclamados vitoriosos, não se conformam. Sabujos das velhas oligarquias se agarram a leviandades e distorções de fatos para atacar a candidata e o seu partido. Vereadores choramingam a postura crítica do PSOL aos tropeços da atual legislatura. E até o prefeito reeleito se serve dos microfones das duas emissoras de rádio que lhes são servis para tentar minimizar a importância de Adriana Calaça neste pleito.

Como entender tanto mal estar dos adversários com um partido tão pequenino? Por que o PSOL incomoda tanto? Elencamos aqui algumas constatações que ajudam a compreender toda essa ira contra a candidata que ficou apenas em terceiro lugar.

Os 1.191 votos de Adriana Calaça, conquistados de forma limpa, sem admitir a compra de votos ou favorecimentos escusos, sem o dinheiro de caciques, defendendo ideias, tem vários significados históricos. O crescimento do partido, em relação à votação obtida na eleição anterior, pelo Dr. Alexandre Maia (691 votos), foi de 72,36%. Em Crateús, depois do fim do voto de legenda para candidatos majoritários, em seis pleitos tivemos mais de dois candidatos concorrendo. Fora os dois que polarizaram o pleito, apenas duas alcançaram a cifra de mais de 1000 votos, coincidentemente duas mulheres, as duas sindicalistas: Adriana Calaça (1.191, entre cinco candidatos, em 2012) e Socorro Sales (1.498 votos, entre três candidatos, em 1996). Massaroca (862 votos), Alexandre Maia (691 votos), Zé Vagno (662 votos), Lucinha (430 votos), Edmilson Coelho, Eduardo Machado e Manoel Balbino completam a lista dos corajosos que ousaram desafiar a velha dicotomia polar. E em esfera maior de comparação, os votos de Adriana Calaça (3,04% dos votos válidos) superaram, em valores relativos, a votação de muitos campeões de votos, inclusive o líder maior do PC do B, o senador Inácio Arruda, que já foi em vários pleitos o deputado mais votado do Ceará, por três vezes candidato a prefeito de Fortaleza com ampla votação e agora em 2012 alcança – essa sim: pífia e decepcionante – votação de míseros 1,82%. 

Mas o fato que mais incomoda é que Adriana, apesar de estreante na política, tem a mais bela história de compromisso com a cidade, dentre todos os que teve como concorrentes. Foi presença marcante nas principais lutas sociais das duas últimas décadas: dos estudantes, dos artistas, dos sem terra, sem teto, dos servidores, das mulheres. Em 1995 se irmanava aos universitários que lutavam por um rancho para a FAEC, conquistando o CAIC. Em 2000, juntamente com as colegas professoras da CNEC, revelou o distrito de Realejo como um seleiro de talento teatral, galgando vários prêmios nos FESTECs. Em 2001, milhares de mulheres foram às ruas em passeata de solidariedade a Ela, que havia sido vítima de constrangimentos e perturbações, em sua condição de mulher, em um restaurante da cidade. Adriana concebeu e coordena um dos maiores projetos culturais da história de Crateús, reconhecido em todo o Estado, o adorável “Quintal com Arte”.

Como sindicalista, juntamente com seus colegas do Sindicato dos Professores, impôs todas as derrotas ao atual gestor, nos embates da categoria com a Administração, nos quatro anos de gestão. O prefeito eleito com votação histórica e que se apresentava como esperança de novos tempos viu sua máscara de bondade cair logo em 2009, ao tentar fechar o Sindicato, ao cortar dois meses de salários dos professores, deixando centenas de famílias com fome. O arrogante, vaidoso e prepotente mandatário teve que amargar grande mobilização liderada pelo sindicato, em solidariedade aos grevistas. Varias famílias “adotaram” como alimentando os filhos dos professores. Os eventos beneficentes reuniam multidões. O comércio, que sofria o impacto da falta de pagamento dos servidores, em atitude nunca antes vista, fechou suas portas durante uma tarde em solidariedade e apoio ao movimento, fato que irritou até as lideranças nacionais do PC de B. A competente e bem sucedida campanha de arrecadação de donativos foi bastante para suprir as carências de comida, remédios, contas de água e luz dos professores, e a greve somente terminou após 78 dias, com o acordo contemplando o pleito da categoria. E em 2011 nova vitória do Sindicato, quando em juízo o prefeito ameaçava entregar o cargo por ter que conceder reajuste de 16,6% para os professores, conforme acordo firmado.


Quanto ao atual prefeito, nada de relevante em se tratando de vínculos com Crateús. Era um mero desconhecido quando aqui chegou em 2004, para disputar a sucessão de Paulo Nazareno, como neoliberal filiado ao PSDB. Em 2006 fez a campanha de Geraldo Alckmin à presidência e dos candidatos do PSDB, inclusive Neném Coelho. De repente, vira bolchevique, filia-se ao PC do B e se torna maior inimigo daqueles que lhes eram correligionários dois anos antes. Eleito em 2008, Fez uma das gestões mais medíocres e conturbadas da história de Crateús. Quem teve a oportunidade de vivenciar os seus quatro anos de incompetência e trombadas – enquanto se cobria de vaidade e soberba, literalmente “se achando o tal”, até descobrir, uma semana antes da eleição que não era tão amado assim – não há de esperar coisa melhor nos próximos quatro anos.


Por outro lado, todo crateuense, o prefeito e seus apadrinhados têm certeza absoluta que, sempre que necessário, a tal da Adriana Calaça e seus colegas do pequenino PSOL serão vozes ativa na defesa das grandes causas do interesse do nosso povo, sem jamais se dobrarem ao mando autoritário de ninguém nem à arrogância dos que, ocasionalmente no poder, se imaginam Deus, e extrapolam os limites da tolerância e do respeito aos que pensam diferente e dedicam suas vidas à luta por justiça social.





Comentários
0 Comentários

Nenhum comentário :

Postar um comentário