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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Os números mostram: novo Papa deve ser europeu



Entre os 117 cardeais que vão eleger o sucessor de Bento XVI em março, 62 são da Europa


Os cardeais favoritos para ser o novo Papa: da esquerda para a direita e de cima para baixo: Claudio Hummes (Brasil), Oscar Andrés Rodrigues Maradiaga (Honduras), Jorge Mario Bergoglio (Argentina), Norberto Rivera Carrera (México), João Braz de Aviz (Brasil), Luis Antonio Tagle (Filipinas), Peter Turkson (Nigéria), Cristoph Schönborn (Áustria), Peter Erdoe (Hungria), Angelo Scola (Itália), Marc Ouellet (Canadá), Francis Arinze (Nigéria), John Onaiyekan ( Nigéria), Timothy Dolan (EUA) / AFP



É verdade que os conclaves papais não são regidos pela lógica dos números, mas pelo Espírito Santo, como a Igreja ensina. No entanto, como tem afirmado cada novo conclave em Roma, o Espírito Santo, muitas vezes, usa o evento para tirar férias e deixar livres os cardeais para elegerem um novo bispo de Roma, o que significa o papa católico.
Os 117 cardeais que elegerão, em março, o sucessor de Bento XVI, que renunciará em 28 de fevereiro, também são seres políticos, com suas preferências e, às vezes, suas ambições pequenas e grandes, pessoais ou de grupo. Eles são, afinal, os eleitores em um dos votos mais secretos do mundo, cujas cédulas são queimadas ao término do conclave, como é chamado o processo de escolha do papa.
Nessa lógica mundana, que também entra no conclave, deve ser contabilizada a força numérica dos votos. Nesse sentido, os europeus são aqueles com a maior força eleitoral, com 62 dos 117 eleitores, mais da metade. Isto, por si, já dificulta a escolha de um cardeal da América Latina, uma região com apenas 19 votos, apesar de ser o lar de cerca de 42% dos católicos do mundo. Em proporcionalidade, o Colégio dos Cardeais segue privilegiando em número de cardeais uma Europa em processo de descristianização.
A lógica dos números indica a possibilidade de um novo papa da Europa. E, entre os candidatos, aqueles com maior número de eleitores são italianos, com 28 eleitores, quase um quarto de todo o Colégio Cardinalício. Estes também têm a vantagem de que, por mais de cinco séculos, até a eleição do falecido Papa polonês, Karol Wojtyla, todos os papas eram italianos. A força da Cúria Romana, o governo central da Igreja, sempre dominada pelos italianos, é outra vantagem a seu favor, uma vez que a Cúria tem muita influência nos conclaves.
Depois da Itália, os países com o maior número de cardeais na Europa são a Alemanha, com seis, e Espanha, cinco. As outras regiões do mundo têm ainda menos possibilidade de obterem votos suficientes para impor um candidato. África tem apenas 11 eleitores, Índia, 5, e Ásia, 11. São votos importantes no momento de decidir entre candidatos empatados, mas pouco além disso.
Considerando-se que Bento XVI, provavelmente, tomou a decisão sobre a sua renúncia há um ano, não há dúvida de que é importante analisar a composição de seu último consistório. Em 6 de janeiro de 2012, nomeou 22 novos cardeais, incluindo 16 europeus, 12 deles votantes, um latino-americano, brasileiro, e quatro dos Estados Unidos. O Papa já deveria ter em mente a composição do próximo conclave, que escolherá seu sucessor, quando nomeou os seus   últimos cardeais. Significa alguma coisa que cerca de 80% deles eram europeus? Talvez.
Há um outro ponto importante. No discurso em que anunciou sua renúncia, disse que a Igreja e seus novos problemas de hoje precisa de um papa com maior vigor físico. É uma mensagem aos cardeais para eleger um papa mais jovem? No Vaticano, o termo jovem significa não mais do que 50 e poucos anos, já que não há cardeais mais jovens do que isso. A maioria de hoje passa dos 60 e, dentre os atuais 210 cardeais, 92 têm mais de 80 anos.
Agora vejamos, na idade entre 50 e 60, mais próximo de um "papa jovem", estão o atual cardeal arcebispo de Berlim e muitos dos italianos. Uma vez que parece improvável que o conclave queira repetir a experiência alemã no papado, restam os italianos, que também são maioria.
Há, porém, um problema: em geral, pelo menos até agora, os cardeais são muitas vezes refratários a um papa "jovem", por duas razões, como já explicado por alguns cardeais da Cúria Romana. Primeiro, porque todo o cardeal tem uma aspiração secreta e freudiana para o trono de São Pedro. Como a maioria dos candidatos são mais velhos, um jovem papa, capaz de governar até 20 anos, iria retirar a possibilidade de muitos cardeais alcançarem o papado.
A segunda razão, segundo alguns cardeais, é que um cardeal estaria mais exposto, se muito jovem, "para os perigos da carne, que diminuem com a idade."
Isso significa que nós podemos fazer profecias sobre o resultado do próximo conclave? Decididamente, não. Poucas eleições da história têm sido, na verdade, mais surpreendentes e inesperadas que a eleição de um papa. E o será desta vez.
FONTE: Juan Arias, do Rio de Janeiro - El País
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