Entre os 117 cardeais que vão eleger o sucessor de Bento XVI em março, 62 são da Europa
É verdade que os conclaves papais não são regidos pela lógica dos números, mas pelo Espírito Santo, como a Igreja ensina. No entanto, como tem afirmado cada novo conclave em Roma, o Espírito Santo, muitas vezes, usa o evento para tirar férias e deixar livres os cardeais para elegerem um novo bispo de Roma, o que significa o papa católico.
Os 117 cardeais que elegerão, em março, o sucessor de Bento XVI, que renunciará em 28 de fevereiro, também são seres políticos, com suas preferências e, às vezes, suas ambições pequenas e grandes, pessoais ou de grupo. Eles são, afinal, os eleitores em um dos votos mais secretos do mundo, cujas cédulas são queimadas ao término do conclave, como é chamado o processo de escolha do papa.
Nessa lógica mundana, que também entra no conclave, deve ser contabilizada a força numérica dos votos. Nesse sentido, os europeus são aqueles com a maior força eleitoral, com 62 dos 117 eleitores, mais da metade. Isto, por si, já dificulta a escolha de um cardeal da América Latina, uma região com apenas 19 votos, apesar de ser o lar de cerca de 42% dos católicos do mundo. Em proporcionalidade, o Colégio dos Cardeais segue privilegiando em número de cardeais uma Europa em processo de descristianização.
A lógica dos números indica a possibilidade de um novo papa da Europa. E, entre os candidatos, aqueles com maior número de eleitores são italianos, com 28 eleitores, quase um quarto de todo o Colégio Cardinalício. Estes também têm a vantagem de que, por mais de cinco séculos, até a eleição do falecido Papa polonês, Karol Wojtyla, todos os papas eram italianos. A força da Cúria Romana, o governo central da Igreja, sempre dominada pelos italianos, é outra vantagem a seu favor, uma vez que a Cúria tem muita influência nos conclaves.
Depois da Itália, os países com o maior número de cardeais na Europa são a Alemanha, com seis, e Espanha, cinco. As outras regiões do mundo têm ainda menos possibilidade de obterem votos suficientes para impor um candidato. África tem apenas 11 eleitores, Índia, 5, e Ásia, 11. São votos importantes no momento de decidir entre candidatos empatados, mas pouco além disso.
Considerando-se que Bento XVI, provavelmente, tomou a decisão sobre a sua renúncia há um ano, não há dúvida de que é importante analisar a composição de seu último consistório. Em 6 de janeiro de 2012, nomeou 22 novos cardeais, incluindo 16 europeus, 12 deles votantes, um latino-americano, brasileiro, e quatro dos Estados Unidos. O Papa já deveria ter em mente a composição do próximo conclave, que escolherá seu sucessor, quando nomeou os seus últimos cardeais. Significa alguma coisa que cerca de 80% deles eram europeus? Talvez.
Há um outro ponto importante. No discurso em que anunciou sua renúncia, disse que a Igreja e seus novos problemas de hoje precisa de um papa com maior vigor físico. É uma mensagem aos cardeais para eleger um papa mais jovem? No Vaticano, o termo jovem significa não mais do que 50 e poucos anos, já que não há cardeais mais jovens do que isso. A maioria de hoje passa dos 60 e, dentre os atuais 210 cardeais, 92 têm mais de 80 anos.
Agora vejamos, na idade entre 50 e 60, mais próximo de um "papa jovem", estão o atual cardeal arcebispo de Berlim e muitos dos italianos. Uma vez que parece improvável que o conclave queira repetir a experiência alemã no papado, restam os italianos, que também são maioria.
Há, porém, um problema: em geral, pelo menos até agora, os cardeais são muitas vezes refratários a um papa "jovem", por duas razões, como já explicado por alguns cardeais da Cúria Romana. Primeiro, porque todo o cardeal tem uma aspiração secreta e freudiana para o trono de São Pedro. Como a maioria dos candidatos são mais velhos, um jovem papa, capaz de governar até 20 anos, iria retirar a possibilidade de muitos cardeais alcançarem o papado.
A segunda razão, segundo alguns cardeais, é que um cardeal estaria mais exposto, se muito jovem, "para os perigos da carne, que diminuem com a idade."
Isso significa que nós podemos fazer profecias sobre o resultado do próximo conclave? Decididamente, não. Poucas eleições da história têm sido, na verdade, mais surpreendentes e inesperadas que a eleição de um papa. E o será desta vez.
FONTE: Juan Arias, do Rio de Janeiro - El País