Gallery

sábado, 8 de junho de 2013

A luta dos servidores municipais de Crateús contra a mudança de regime

Carlos Felipe pretende mudar os regimes de trabalho e previdência dos servidores públicos municipais de Crateús. O objetivo principal do prefeito é diminuir o custo das obrigações patronais do município e minar a organização sindical dos servidores.

06/04/2013. Servidores reunidos em assembleia
 rejeitam a proposta da gestão de mudar os regimes
trabalhista e previdenciário dos servidores
públicos municipais.
Carlos Felipe já mobilizou toda a sua base aliada na Câmara Municipal e pressiona para que os vereadores situacionistas aprovem Projeto de Lei Complementar mudando o regime trabalhista dos servidores, de celetista para estatutário, e, logo em seguida, também votem favoravelmente à implantação de Regime Próprio de Previdência Social (RPPS), saindo, portanto, do Regime Geral de Previdência Social (RGPS, ou seja, o INSS). O RPPS só pode ser criado após a publicação do estatuto no Diário Oficial do Município, o que significa que é ilegal qualquer lei que estabeleça, ao mesmo tempo, regime estatutário e RPPS no município.

Adotando o regime estatutário, o município de Crateús deixa de contribuir para o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Em 2012, segundo dados do Portal da Transparência do TCM, a despesa da municipalidade com o FGTS foi de R$ 1.890.182,74. Se for implantado RPPS, a alíquota da contribuição previdenciária da prefeitura diminui de 20% do salário do servidor para até 11%. Em 2012, ainda de acordo com o Portal da Transparência do TCM, a contribuição previdenciária dos servidores (parte patronal) custou cerca de R$ 3.065.447,06. Caso os vereadores aprovem as propostas da administração municipal, a economia para o município será em torno de R$ 3.576.178,62 por ano.

Sindicatos organizam abaixo-assinado contra a mudança de regime.
As vantagens da mudança de regime trabalhista e previdenciário para a prefeitura são evidentes. Além de significativa economia, o regime estatutário também é muito mais suscetível a mudanças, haja vista que o estatuto pode ser alterado, caso o prefeito garanta maioria na Câmara de Vereadores, enquanto a CLT só pode ser alterada pelo Congresso Nacional. O regime estatutário, portanto, facilita o relacionamento verticalizado da atual gestão com os servidores, expondo ainda mais os trabalhadores à truculência e opressão, que têm sido tão frequentes nesta administração. Isto sem contar que é a prefeitura que administrará os recursos do fundo de previdência municipal.

Para o servidor crateuense, todavia, a mudança é profundamente nociva. Além do consequente fim do FGTS, o que significa perder, anualmente, o equivalente a uma remuneração mensal, e da demora de pelo menos três anos para poder sacar os valores já depositados no Fundo (isto se montante estivesse individualizado, mas não está), os servidores que ganham até R$ 1.247,00 (a grande maioria, portanto) passarão a contribuir mais para a previdência, pois a alíquota para estes trabalhadores aumentará de 8% para 11% do salário. A perda mensal corresponde a 3% de seu salário líquido, isto é, cerca de 36% de sua renda ao ano.

02/05/2013. Servidores fazem paralisação geral contra a mudança de regime.
Para os trabalhadores públicos municipais é ainda mais perturbadora a gestão dos recursos do fundo de previdência municipal pela prefeitura. A realidade da grande maioria dos municípios cearenses (e brasileiros) que implantaram RPPS é de déficit, muitas vezes resultante do desvio de recursos do fundo de previdência, deixando os servidores numa situação de completa insegurança. Os valores dos benefícios concedidos, na grande parte dos casos, são inferiores ao salário mínimo, fato que não ocorre no Regime Geral de Previdência (INSS). A almejada aposentadoria integral é prerrogativa de poucos servidores, que precisam trabalhar, em média, até 40% mais que aqueles que se aposentam com benefício proporcional. Aliás, com a Lei federal No 10.887/04, mesmo no RPPS, o cálculo do benefício previdenciário passou a ser pela média salarial a partir de julho de 1994.

02/05/2013. Servidores fazem motocarreata contra a mudança de regime.
Outro grave problema verificado em todos os municípios onde existe RPPS é a falta de transparência. A dificuldade dos servidores em ter acesso às informações do fundo previdenciário aliada à fiscalização precária do TCM e do Ministério da Previdência fomentam a ocorrência de corrupção.

No caso de haver judicialização, naqueles municípios que possuem RPPS, a querela é resolvida na Justiça Comum, enquanto no INSS a disputa é travada na Justiça Federal, muito mais célere que a Comum. Lembrando que aqui em Crateús nem sequer há juiz na Comarca.

Os servidores municipais de Crateús explicitaram claramente o seu posicionamento em relação ao tema, rejeitando, por unanimidade, a proposta de Carlos Felipe, durante assembleia conjunta do Sindicato dos Servidores e Sindicato dos Professores, ocorrida no último dia 6 de abril.

02/05/2013. Servidores lotam Câmara Municipal em protesto contra
mudança de regime.
Os sindicatos capitanearam forte reação dos servidores à atitude do prefeito de enviar o projeto da mudança de regime à Câmara Municipal, contrariamente à vontade dos trabalhadores. No último dia 2 de maio, os servidores protestaram com paralisação geral no município e realização de atos públicos. Além de caminhada pelas ruas centrais da cidade, houve motocarreata e manifestação na Câmara Municipal. Abaixo-assinado contra a mudança de regime também foi organizado, coligindo, até agora, cerca de 800 assinaturas.

Apesar da contundência da reação dos servidores, Carlos Felipe continua firme na intenção de implantar regime estatutário e RPPS em Crateús. Segundo fontes próximas ao gestor, o projeto deve ir à votação nos próximos dias, o que enseja atitude de vigilância por parte dos servidores, que devem manter-se alerta e continuar unidos contra a mudança de regime, um golpe letal no funcionalismo público municipal de Crateús.
Comentários
0 Comentários

Nenhum comentário :

Postar um comentário