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terça-feira, 4 de junho de 2013

Juízes que obrigam governo a comprar remédios podem quebrar administrações, diz procurador

O procurador regional da República Daniel Sarmento prevê riscos financeiros para as administrações públicas por causa das decisões judiciais que as obrigam a fornecer medicamentos e tratamentos gratuitos. “A prestação gratuita desses serviços pode inviabilizar a universalização do direito à saúde, principalmente quando são tratamentos de alto custo”, afirmou Sarmento durante o Seminário Direito à Saúde: Desafios para a Universalidade, promovido pelo Fórum da Saúde do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

O procurador propôs medidas que racionalizem a concessão desses bens e serviços de saúde pela Justiça. Uma delas seria condicionar a distribuição de um remédio apenas quando o Governo pudesse assegurar a distribuição dele a todos os pacientes que sofrem do mesmo mal. “O Governo não poderia garantir a todos os pacientes de câncer o mesmo tratamento ao que o ex-vice presidente José Alencar se submeteu”, disse, referindo-se ao ex-vice-presidente no governo Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o procurador, a lei da escassez deveria ser considerada pelos magistrados antes de serem tomadas essas decisões.

De acordo com Sarmento, a judicialização da saúde no Brasil é um fenômeno recente que teria se intensificado nos anos 1990, mas não resolveu o problema da falta de acesso à saúde, principalmente para os mais pobres. “Na Justiça distributiva, uma decisão implica em alocação de recursos mas também em desalocação de recursos de outra área”, disse. Segundo ele,  a falta de investimentos, principalmente públicos ajudaria a entender por que tantas pessoas defendem seu direito à saúde nos tribunais.“Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil investe anualmente US$ 411 em saúde per capita, quando a média mundial é US$711. A Argentina investe cerca de US$800 e os Estados Unidos, quase US$ 4.000”, comparou.

O ministro Leslie Van Rompaey, ex-presidente da Corte Suprema do Uruguai, defendeu o direito dos cidadãos de recorrer ao Poder Judiciário. “A judicialização (da saúde) é a garantia de um direito social”, disse. Segundo o magistrado, a racionalidade por trás das decisões do juiz é o “maior legitimador de suas sentenças” nesse tipo de demanda judicial, que vem sendo cada vez mais recorrente nas cortes do país vizinho nos últimos dez anos.

A professora de Direito da Universidade de São Paulo, Sueli Dallari, que também participou do seminário, lembrou que os mecanismos de participação da sociedade na execução das políticas públicas sanitárias é uma alternativa ao problema da judicialização da saúde. Segundo ela não é um bom caminho fazer dos juízes, médicos ou técnicos em farmácia.  

Já o juiz federal Roger Raupp Rios propôs uma interação entre os poderes Executivo e Judiciário. “Precisamos de uma relação mais produtiva com o Poder Executivo”, defendeu. Segundo o magistrado, as demandas individuais por medicamentos e tratamentos pode ajudar os governos a melhorar a prestação do serviço. “Elas não necessariamente são impeditivas da universalização da Saúde”, afirmou.

FONTE: Agência CNJ de Notícias
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