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domingo, 1 de março de 2015

Crateús: adutora trará alívio, mas não deve ser a solução

Com mais de 150 Km de extensão, a adutora que liga o açude Araras, localizado em Varjota, à estação de tratamento da Companhia de Água e Esgoto do Ceará - Cagece, em Crateús, com dois meses de atraso, finalmente começou a operar. A previsão é de que a água transportada pela adutora chegue em Crateús ainda neste domingo, primeiro de março. Além de Crateús, o equipamento, que custou R$ 82 milhões, tem ainda a função de transferir água para Nova Russas, como Crateús, também em colapso pela falta d'água.

Trecho da adutora no açude Araras
FOTO: Facebook do prefeito Mauro Soares
O alívio para as populações de ambos os municípios deve ser imediato, mas novarrussenses e crateuenses devem continuar a enfrentar o racionamento. Isto porque, na avaliação do próprio governo do Estado, a água transferida pela adutora (336 mil metros cúbicos/mês para Crateús e 194 mil metros cúbicos/mês para Nova Russas) não deve ser suficiente para suprir plenamente as necessidades hídricas da população. 

O paliativo também não deve durar muito, pois, a não ser que chova o suficiente para garantir a recarga do Araras, o açude pode secar ainda este ano. Atualmente, o reservatório está com 7,8% de sua capacidade. Para evitar o secamento do reservatório em apenas quatro meses, as comportas serão fechadas. Segundo a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos - Cogerh, o procedimento garantirá água para Crateús e Nova Russas, além dos cinco municípios abastecidos pelo Araras (Varjota, Ipu, Pires Ferreira, Reriutaba e Hidrolândia), até abril de 2016. A medida, contudo, comprometerá o abastecimento dos municípios situados a jusante da barragem. É  caso de Morrinhos, Santana do Acaraú, Forquilha, Groaíras, Cariré e Sobral.

Por isso, em Crateús, é importante a continuidade de ações emergenciais, como a perfuração de poços profundos nos bairros, especialmente os mais afastados, a colocação de caixas d'água em pontos estratégicos da cidade e a instalação de dessalinizadores, mesmo com o funcionamento da adutora. O objetivo é evitar solução de continuidade no abastecimento, caso haja incidentes com o equipamento, como ocorreu na última quarta-feira (25), quando um pequeno trecho da adutora que passa pelo distrito de Curral Velho, Zona Rural de Crateús, foi arrastado pela chuva, e também preparar o município para a hipótese, provável, de o Araras secar.

Açude Araras
FOTO: Facebook do prefeito Mauro Soares
Em julho de 2013, quando o açude Carnaubal, que abastece Crateús, secou completamente, o governo do Estado, através da Cogerh, transferiu para a barragem, sem adutora, cerca de 2,5 milhões de metros cúbicos de água a partir do reservatório Flor do Campo, localizado em Novo Oriente. A operação, que consistiu no despejo de cerca de 7 milhões de metros cúbicos de água no leito seco do rio Poty, ocorreu sob protestos de religiosos católicos e movimentos sociais de ambos os municípios, que eram favoráveis à transferência através de adutora. O resultado foi a perda de quase 5 milhões de metros cúbicos do escasso líquido.

A transferência hídrica a partir do Flor do Campo mitigou a situação de Crateús, mas as medidas adotadas pelos órgãos governamentais não foram suficientes para prevenir o colapso no abastecimento do município.

Quando o Carnaubal novamente secou por completo, sem a conclusão da adutora, foram perfurados poços no leito do açude para atender emergencialmente a população, que tem ficado vários dias sem água e tem que recorrer a chafarizes instalados em poços com dessalinizadores e caixas d'água abastecidas por caminhões-pipa. Filas enormes formam-se nestes locais.

O que se espera é que o sofrimento da população seja aliviado pela água bombeada a partir do Araras, mas, com o cenário atual, a segurança hídrica dos crateuenses continuará em risco, se, ao contrário do que ocorreu após a liberação das águas do Flor do Campo, não forem adotadas medidas preventivas mais eficazes, que não dependam do regime de chuvas, como a perfuração de mais poços profundos, em todos os bairros, e a exploração de aquíferos, como o existente na localidade de Canto dos Pintos, onde, supõe-se, podem ser perfurados poços de grande vazão, capazes até mesmo de abastecer todo o município.

A escassez também impõe mudanças drásticas na gestão dos recursos hídricos em Crateús. Do contrário, a falta d'água pode se tornar um problema crônico no município.
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